11 março 2015

A mostra da cultura brasileira no Mirabellgarten em Salzburg


A ideia do projeto “Aukunft” com a mostra da cultura brasileira nasceu no outono de 2013 quando a curadora austríaca, Marianne Figl, me pediu para procurar músicos e outros artistas brasileiros para este projeto no verão de 2014. O objetivo principal do projeto era dar espaço para artistas se conhecerem e criarem juntos algo novo, mas o tema especial foi o Brasil, por causa da copa do mundo de 2014 no Brasil.
Entre novembro de 2013 e maio de 2014 nós nos encontramos com muitos artistas austríacos e brasileiros e discutimos o que e como podemos apresentar juntos. Enfim começamos com 16 artistas e grupos a preparação da mostra com alguns workshops e uma festa do Brasil. Procuramos apoio financial para realizá-la e preparamos propagandas para jornais e outras mídias.
 Até junho comunicavamos pelos inúmeros e-mails com os participantes do projeto no Brasil e consegui preparar os vídeos do Rafuco no Rio de Janeiro e as pinturas da arte naif de São Paulo para apresentar no vernissage do dia 27 de junho. E esperei que tudo desse certo no vernissage.
No dia do vernissage tudo ficou pronto e seis vídeos do Rafuco correram bem mostrando os problemas atuais do Brasil com ironia e humor. A apresentação da arte naif “Futebol na arte” mostrou o grande amor dos brasileiros pelo futebol. Outra apresentação das fotos do Brasil deu informações gerais sobre o Brasil, desde cenas cotidianas até os monumentos célebres.  Foi uma jóia!
Na noite da sexta-feira do dia 7 de julio foi uma noite afro-brasileira. Graças a Deus, o tempo ficou perfeito! Às 17.30 começamos com a dança do grupo austríaco na beira do rio Salzach com percussionistas. Depois o jogo do grupo, Abada-Capoeira, seguiu com a sua música com atabaque, berimbau e pandeiro na frente da igreja do Cristo. Suas canções e percussões se unificaram com os movimentos dos capoeiristas e faziam uma beleza única.
De lá o grupo de samba “Tudo bem” e o grupo de maracatu “Encontro” desfilaram com seus toques vigorosos, um ritmo rápido e alegria e outro ritmo grave e digno da áfrica e o som dos tambores voou na cidade. Depois os grupos e os espectadores desfilaram em procissão por um tempinho e entraram no jardim do palácio Mirabell e lá cada grupo fez seu show pequeno mais uma vez. E todo mundo encontrou no espaço do pavilhão, onde tinha a exibição do projeto com pinturas e objetos dos artistas austríacos e também as projeções de vídeos e fotos. Todos os grupos fizeram seus espetáculos principais em frente ao pavilhão e receberam grande aplauso do grande publico.
Todo mundo aproveitou essa noite brasileira com caipirinhas, empanadas e outras boas coisas, dançando e batendo palmas. Foi uma noite muito brasileira e inesquecível! Para os brasileiros foi muito mais, porque o Brasil venceu a Colômbia nas quartas de final da copa do mundo em Fortaleza. Talvez nossa energia gigante tenha alcançado até a seleção brasileira lá no norte do Brasil.
Viva a cultura brasileira e o espírito afro-brasileiro!
por Sayoko Kaschl

15 abril 2014

Rio em movimento

Cheguei no aeroporto do Rio de Janeiro no dia 28 de fevereiro de 2013, duas semanas depois do carnaval. Prefiro visitar essa cidade maravilhosa numa época tranqüila, porque todo mundo tem mais tempo e é mais fácil para se locomover na cidade.

Os preços no Brasil subiram imensamente nos últimos anos por causa da copa do mundo em 2014 e das olimpíadas no Rio em 2016. O pernoite do hotel, onde eu antigamente ficava, custa 50% mais agora. Graças a Deus, pude ficar hospedada no apartamento da família do meu amigo, Rafael, no Leblon, como no último ano. Lá me senti muito bem, pois já conhecia bem meio de transporte, lojas nas cercanias e tal. Logo depois da minha chegada, comecei a aprender pandeiro, que é um instrumento musical do Brasil tocado nos sambas, choros e nas músicas folclóricas, com o meu professor de Nova York, Scott Feiner, que toca jazz com pandeiro. Ele mora no Rio há quase 15 anos e me disse que a vida no Rio tinha se tornado cara demais e que ele estava pensando em procurar um lugar alternativo para morar.


Um dia participei com o Rafael numa manifestação contra o pastor e deputado federal, Marco Feliciano, que foi eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados do Brasil, embora ele tenha feito declarações racistas e homofóbicas. Encontramo-nos no centro do Rio, na frente da Câmara Municipal. Lá vários grupos faziam discursos sobre discriminação nas suas vidas e protestavam contra este político. Depois andávamos na rua exibindo cartazes com slogans contra ele e gritando palavras de protesto no ritmo brasileiro, de que gostei bastante, até a Lapa, onde nos juntamos para demonstrar nossa união e nossas intenções.

Num outro dia, depois da aula de pandeiro, assistia um evento chamado “Fraude Fashion Show” na avenida no Leblon. É legal que a metade da avenida é sempre fechada paras pedestres no domingo no Rio. Esse projeto era contra uma das muitas corrupções no Brasil e era contra a fraude do secretário de saúde do estado do Rio, Sérgio Cortês. O show mostrou que os hospitais no Rio de Janeiro não são capazes de atender a doentes e feridos por causa da falta de dinheiro, porque, segundo se diz, muito dinheiro era aproveitado para as propriedades do secretário. Era um show humorístico e irônico, bem legal, que foi filmado e fotografado. Os passantes e empregados das bancas assistiram-no e gostaram dessa ação de apelo à justiça.


Depois da minha volta para Salzburg, recebi notícias das manifestações que terminaram com muitos feridos e detidos, e até mortes. Essas notícias me entristecem profundamente, porque naquela época da minha presença lá, nossa manifestação era ainda em paz e sem violência. Ao mesmo tempo vi na internet numerosas manifestações em outras cidades no Brasil por causa do aumento dos preços dos meios de transporte públicos e dos serviços públicos. O Brasil está se preparando para a copa do mundo em 2014 e as olimpíadas no Rio em 2016, o que requer um monte de dinheiro. Num país, onde há pouca classe média e grande pobreza, essa política é injusta e não efetiva.
Espero que o Brasil siga o melhor caminho e conclua essa mudança para melhor, com vontade e felicidade do povo.


Por Sayoko Kaschl

11 fevereiro 2012

FESTA DE IEMANJÁ
Símbolo da cultura baiana

A cada ano, em 2 de fevereiro, milhares de pessoas se reúnem no Rio Vermelho, antigo bairro de pescadores em Salvador da Bahia, para homenagear Iemanjá, rainha do mar e protetora da pesca.

A festa de Iemanjá é baseada no sincretismo religioso. Trata-se de uma homenagem ao orixá de origem africana, cujo nome deriva da expressão Iorubá “Yèyé omo ejá” (“Mãe cujos filhos são peixes”). Para os católicos, o mesmo dia é dedicado à Nossa Senhora da Conceição ou Nossa Senhora dos Navegantes, em algumas regiões do Brasil, como por exemplo no Rio Grande do Sul.

A partir da madrugada, adeptos do candomblé tal como devotos católicos juntam-se nas praias do Rio Vermelho para jogarem suas oferendas no mar ou para depositarem seus presentes em balaios, os quais são levados em embarcações às águas à tarde. A variedade de presentes é enorme, mas tradicionalmente a maioria deles está relacionada à vaidade e beleza de Iemanjá: flores, pentes, espelhos, vestes, maquiagem, jóias, bijuterias e perfumes.

É comum depois da oferenda, as pessoas participarem da vasta programação em bares, restaurantes e hotéis, que se transformam em verdadeiros camarotes. Do ciclo de festas populares, em Salvador, esta festa é considerada uma das mais concorridas. Atrai baianos e turistas de todo o mundo, que se deliciam com as comidas e bebidas típicas das barracas dos largos, ruas e avenidas do Rio Vermelho.

Ute Baumgartner
Salvador da Bahia, 11 de fevereiro de 2012

23 novembro 2009

Recife

Escultura de Manuel Bandeira


Museus e parques no Recife

O Recife, a capital de Pernambuco, também como Salvador da Bahia, possui muitos museus e parques históricos de alta qualidade. A primeira vez que visitei o Recife foi em março no ano de 2007. Estava ainda muito quente, mas o tempo esteve ótimo para passear pelo centro da cidade e ver os rios e as pontes.

Naquela época, ainda acompanhada pelo meu professor, Iran, eu andei pela cidade e conheci muitas esculturas dos poetas recifenses. Elas estão nas ruas e nas pontes, de pé ou sentadas, como se ainda estivessem vivendo lá. Gostei muito da ideia de imortalizá-los. Algumas esculturas que encontrei foram, por exemplo, as de Joaquim Cardoso na Ponte Maurício de Nassau, Ascenso Ferreira no Cais da Alfândega e Antônio Maria na rua do Bom Jesus.

Depois atravessando a bacia portuária com um barquinho, fomos para o parque de Esculturas Francisco Brennand que está instalado sobre o molhe do porto, em comemoração aos 500 anos de Descobrimento do Brasil. Lá, encontram-se esculturas de tartarugas, de pássaros e de outras figuras mitológicas, observando o céu sobre a cidade.


Francisco Brennand é o artista que encantou o antigo Engenho São João no bairro Várzea cercado pela Mata Atlântica e pelo Rio Capibaribe, fazendo da Oficina Brennand, um espaço único e misterioso com abundância de peças exuberantes, com os jardins do Burle Marx. A visita ao museu, no ano seguinte, foi impressionante.


No caminho de volta visitei o Instituto Ricardo Brennand, um complexo formado por um castelo, uma pinacoteca e uma biblioteca em estilo medieval gótico com imensos jardins e lagos, também no bairro Várzea. O acervo cultural do colecionador Ricardo Brennand é inestimável. O castelo, o museu do Instituto, reúne a mais importante coleção de armaria do Brasil, das mais diversas origens e período de até seis séculos.


Neste ano quis conhecer mais da Mata Atlântica e fiz uma excursão com minhas amigas olindenses para o Parque Dois Irmãos. O Parque Dois Irmãos fica numa área de reserva fantástica da Mata Atlântica e tem um zoológico com mais de 800 animais de variadas espécies, cercado pela bela natureza com árvores centenárias. Lá conheci algumas aves e tartarugas que nunca tinha visto antes. Por exemplo, este mamífero que se chama “tatu”. É muito bonzinho.

Depois de ter inspirado bastante oxigênio da Mata Atlântica, no caminho de volta pelo rio Capibaribe, passei pela casa-museu Magdalena e Gilberto Freyre. O sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre (1900-1987), autor de “Casa-Grande & Senzala” e “Sobrados e Mocambos”, viveu nesta casa no bairro de Apipucos com sua família por mais de 40 anos. Agora ela é sede da Fundação Gilberto Freyre e abriga o conjunto de objetos colecionados, guardados e ordenados pela família Freyre. Essa casa-museu é repleta de obras, e o seu acervo é de aproximamente 40 mil livros e tudo é colocado como foi concebido por Gilberto Freyre. Imagens sacras católicas se confundem com peças de origem africana, azulejos portugueses com peças de arte indígena, porcelanas orientais com prataria inglesa etc.

Cheia de empolgação saí da casa-museu e fui para o Museu do Homem do Nordeste, que fica mais abaixo do rio Capibaribe. Este museu foi fundado em 1979 por Gilberto Freyre para pesquisar, documentar, preservar, difundir e atualizar o rico patrimônio cultural de Nordeste possuindo cerca de 15.000 peças de heranças culturais do índio, do europeu e do africano na formação do nordestino brasileiro. Pelo uso da tecnologia novíssima, a gente pode entrar no mundo nordestino quase real, audiovisualmente. Foi realmente muito impressionante.

Após visitar esses dois museus nordestinos, fui em busca da natureza nordestina e encontrei o Parque da Jaqueira, onde ficam os Jardins da Capela de Nossa Senhora da Conceição das Barreiras, edificada em 1766. Cercada por um belo jardim com enormes palmeiras, projetado por Burle Marx (“o Senhor dos jardins”, como Tarsila do Amaral se referia a ele), a Capela mostra sua beleza em estilo barroco. O branco intenso da capela e o verde forte do jardim faziam um contraste muito vívido e inesquecível.


O Recife ainda tem muito mais museus atraentes e parques encantadores, mas ainda não consegui visitar todos. Estou só aguardando a próxima oportunidade para conhecer mais, porque neste ano encontrei a escultura de Manuel Bandeira na Rua da Aurora na beira do Rio Capibaribe e prometi que voltarei um dia.

por Sayoko Kaschl

05 outubro 2009

Olinda


O toque de Xangô na Nação Xambá

No dia da partida para a Europa, levantei às 5 horas da manhã e peguei um táxi para São Benedito perto de Olinda para assistir à preparação da celebração do toque de Xangô na Nação Xambá porque não podia ficar até a celebração com o público no domingo, no dia seguinte. A Nação Xambá é o único terreiro dessa linhagem que se tem conhecimento no Brasil.

Cheguei lá às 6 horas, muito ansiosa para conhecer coisas novas e fiquei aguardando meu amigo Guitinho da Xambá para sua instrução no terreiro, durante a celebração. Logo depois ele chegou e me avisou que eu não poderia assistir àquela celebração por causa do segredo religioso, mas poderia escutar fora do terreiro, se quisesse. Então sentamos no banco fora da casa do terreiro e ficamos escutando juntos. Entretanto meu amigo me explicou detalhadamente o que estava acontecendo no salão do terreiro.

Explicou-me que a celebração do toque de Xangô já tinha começado na quarta-feira de madrugada e todos os dias havia preparação até o toque no domingo. O toque dura das 16 h até as 20h. O salão estava arrumado com o cheiro gostoso de cominho (tempero para comida) que chegava bem até onde estávamos sentados. Disse que os filhos de santo não deviam falar na sala de entrada até entrarem no terreiro e cumprimentarem os outros filhos de santo.

O toque começou e ele me disse que as crianças estavam tocando na preparação para praticar com os adultos. Eles começam a tocar tambor “ilú” com 4 ou 5 anos de idade. O primeiro toque com canto era para Exu limpar o terreiro e o caminho. O segundo era para Ogum e a seguir para outros Orixás. A sequência dos orixás são sempre Exu, Ogum, Odé (Oxossi), Nana, Bêji, Obaluaiê (Omolu), Ewá, Obá, Xangô, Oyá (Iansã), Afrekête, Oxum, Yemanjá, terminando com Orixalá. Disse que os cantos são 90 por cento na língua Yorubá e outros são na língua misturada com português.


Enquanto escutávamos o toque de Xangô com canto, os galos eram preparados para o sacrifício. Diz-se, na madrugada da quarta-feira também é sacrificado um bode ou uma cabra. Xangô é o Orixá da Justiça, dos raios, das pedreiras e do trovão. O seu símbolo e ferramenta é o machado duplo, suas cores são vermelha e branca e o sacrifício para ele é galo, carneiro, etc. Na Xambá, a cor da camisa é rosa, diferente das outras nações que é vermelha e branca, mas a guia de Xangô na Xambá é vermelha e branca.


Durante os toques as pessoas podiam tomar e comer algo, já que o toque durava quase 4 horas e os adeptos dançavam até seu transe. Fui convidada para um café e saboreei algumas das batatas doces cozidas. Eram muito gostosas. Também havia um prato de milho cozido, um prato de salsichas e pães. Todo mundo era muito gentil e hospitaleiro e eu gostei muito deste convite tão carinhoso. No outro lado do quarto as mulheres faziam um bolo grande e quadrado com cobertura branca para o próximo dia. Parecia muito delicioso!

Por sorte, por volta do fim da celebração fui convidada para entrar no salão do terreiro e pude presenciar esta celebração por um momento, pelo qual agradeço muito a todo mundo no terreiro e especialmente a meu amigo, Guitinho da Xambá. Dançando lá com a batida dos tambores “ilús”, junto com os filhos de santo com roupas bonitas nas cores dos seus Orixás, pude perceber muito forte a seriedade e o respeito desse povo por sua cultura. Com certeza, o toque de Xangô no domingo deve ter sido um bom toque para todos.

por Sayoko Kaschl

Mais informações : http://www.xamba.com.br
Fonte da foto de Xangô : http://ilarioba.tripod.com/orixas.htm