28 novembro 2006

Rio de Janeiro e os cariocas 3

por Nikola Weiser

O tempo carioca
Tente observar uma agenda cheia de compromissos ou confie em horários marcados no Rio de Janeiro e você descobre que é um candidato para úlcera do estômago. A pontualidade não é uma das maiores importâncias dos cariocas. Chegue à uma festa pontualmente e você vai conversar com as paredes. Ninguém o espera na hora. Por isso, no Rio faça assim: relaxe e tome um choppinho.
Em uma cultura onde todo mundo está atrasado é preciso de tranqüilidade. E o carioca a tem. A beleza do carioca é também a sua habilidade de fazer o melhor de alguma situação e esperar na fila é uma delas. Entrando em uma fila de 40 ou 50 pessoas o carioca primeiro resmunga algo como “Caralho, o que é isso?” ou “Filho da puta!” Mas esperando na fila ele tem muito tempo de fazer bate papo, trocar as novidades da novela das oito (= telenovela às oito horas da noite), argumentar qual é o melhor time de futebol, até fazer amizade.

Música Brasileira

por Sayoko Kaschl

Quando Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil em 1500, a história da música brasileira já tinha começado. Indígenas cantavam e tocavam instrumentos musicais. Diz-se que as raízes da música brasileira têm sua origem nos ritmos indígenas e na música européia, especialmente na música sacra, trazida por colonizadores portugueses. Mas há ainda a influência da música africana, que chegou com os escravos de origem bantu ou nagô.
A música brasileira antes do século XIX, antes do descobrimento da gravação, pode ser investigada só através das cédulas e de outros escritos e sabemos que muitas músicas clássicas eram tocadas no Brasil, onde a cultura européia era de forte influência. No início do século XVII, já havia a escola de música e, no século XIX o famoso Teatro Amazonas em Manaus, já apresentava óperas. Esta música européia no Brasil desenvolveu-se de um modo muito particular, influenciado, ao mesmo tempo pela música indígena e africana.
Um dos primeiros músicos importantes na história da música moderna do Brasil é o compositor Carlos Gomes (1836-1896), nascido em Campinas, SP. Conhecido como o compositor das muitas óperas, escreveu uma composição “O guarani (a tribo guarani)”, que é inspirado no romance “O guarani” de José de Alencar, a novela mais lida naquela época. Esta composição se refere à frase da canção tradicional do índio.
Ele é considerado o fundador do movimento nacionalista na música brasileira, preferia livretos de inspiração indígena -, embora a sua criação musical sofresse fortes influências italianas. Giuseppe Verdi, após a estréia de “O guarani” no Teatro Scalla de Milão, teria dito: Este jovem começa por onde eu termino!
O próximo compositor mais importante no Brasil viria ser Heitor Villa-Lobos (1887-1959). Ele viajou pelo Brasil e buscou a inspiração na natureza e na vida dos povos nordestinos e amazônicos.



Clique aqui para ouvir O Guarani, composição de Carlos Gomes.
Clique aqui para ouvir Bachianas Brasileiras, de Heitor Villa-Lobos



foto e autógrafo de Carlos Gomes
fonte: http://www.wikipedia.org.br

26 novembro 2006

Governo da Áustria implanta biblioteca básica austríaca em universidades brasileiras

por Guido Bruck



Viena / Salzburg / Rio de Janeiro / Porto Alegre

Caro leitor,
Com muito prazer, gostaria de anunciar que, em breve, estarão à disposição pequenos centros de livros austríacos nas bibliotecas da UFRGS, Porto Alegre e da UFRJ, Rio de Janeiro (universidades que mantêm convênio com a Universidade de Salzburg). Inicialmente, são pontos onde se pode encontrar livros da literatura e cultura austríaca em alemão.Os centros receberão periodicamente novas publicações.As Bibliotecas Austríacas existem desde 1989 e se expandiram na Europa Central e Oriental. Hoje encontramos 50 unidades bibliotecárias em 20 paises. E é o Brasil que acolherá os primeiros centros na América Latina.Mas também se pode entrar na biblioteca virtual “Österreich Bibliotheken - ( Virtuelle Bibliothek “
www.oesterreich-bibliotheken.at/) e encontrar muitas informações úteis como, por exemplo, títulos de obras traduzidas da literatura austríaca em português => (Auslandsaustriaca).No decorrer dos próximos anos, com a ajuda local, estes núcleos poderão tornar-se um centro bibliotecário, servindo de apoio para pesquisa de estudantes, professores e investigadores, tendo em vista a promoção de eventos literários austríacos.Sabemos que os nossos livros vão ser recebidos bem na nova terra e esperamos que sejam uma porta para conhecer melhor a nossa cultura.

Clique aqui para conhecer o site da biblioteca em Porto Alegre.

Comentando a música portuguesa actual

por Alexandre Gabriel

Desta vez, quero apresentar-vos alguns interessantes artistas da música contemporânea de Portugal. A mais recente estrela é Sára Tavares, uma cantora portuguesa de origem africana. Oriunda de Cabo Verde, tem um estilo muito próprio, faz uma fusão de música portuguesa e africana. A famosa Cesária Évora é da mesma terra, porém, não é cantora portuguesa, é uma cantora da língua portuguesa. O seu blues é curioso: canta a morna, um gênero musical profundo em sentimentos. Descendendo do fado português, este estilo mistura-se aos sons acústicos de violão, clarineta, acordeão e outros instrumentos.
ANAIFA é um grupo de música alternativa (urbana) mas com origens tradicionais. É a mistura do fado e música pop moderno. Gaiteiros de Lisboa é um grupo português muito especial e muito apreciado. Eles inventam instrumentos e sonoridades e têm ganho muitos prémios e diz-se que talvez, a nível artístico, sejam o melhor projecto portugês embora não seja um grupo comercial. António Variações é o cantor português morto mais vivo. Ele morreu de Sida nos anos 80, uma época em que esta doença horrível ainda era quase desconhecida. Muitos acham que era um louco mas tem sido homenageado constantemente por outros cantores. Madredeus é o grupo português mais conhecido no estrangeiro, embora já exista há mais dez anos. É a combinação da música tradicional portuguesa, da música erudita e da música popular contemporânea. Rodrigo Leão, um dos fundadores dos Madredeus, separou-se cedo do grupo, e é mais alternativo, menos comercial mas de um bom gosto. Ele possui um estilo próprio, não é cantor, é músico. Normalmente, ele convida cantoras de voz muito boa para darem voz à sua música, como Lula Pena e Rosa Passos. Claro que não se pode esquecer de Rui Veloso, o pai do rock português: É um cantor, compositor e guitarrista português. Todos os portugueses conhecem canções como: „Não há estrelas no céu“ ou „Sei de uma camponesa…“ E, finalmente, para quem gosta do Fado moderno, a cantora Marisa é um sucesso mundial. Ela recebeu o prémio BBC radio nos dois últimos anos e, neste ano, novamente concorrerá ao lado de Sára Tavares.
Fontes:
http://pt.wikipedia.org
http://www.instituto-camoes.pt/encarte/encarte35f.htm
http://www.caboverde.com/evora/evora.htm
http://www.gaiteirosdelisboa.com/
http://www.anaifa.com/pt_anaifa.html

19 novembro 2006

Eh toiro, vem cá toiro! - A tourada em Portugal

por Alexandre Gabriel

Quando estive em Portugal, conheci uma tradição portuguesa: a tourada. Geralmente, nós, austríacos, não sabemos nada deste jogo e, por isso, era como comer caracóis: completamente novo para mim. Há vários tipos de touradas. Em Portugal, a tourada na arena é feita a cavalo e a figura principal é o cavaleiro, e não o toureiro, porque apenas serve para distrair o touro com a capa vermelha. O cavaleiro, que está sentado no cavalo, tem bandarilhas que tem de espetar no touro. Com certeza, o touro tem de sofrer imenso. Depois disso, os forcados fazem a armadilha. Eles têm de agarrá-lo e imoblizá-lo. Na Espanha, não há forcados nem cavaleiros, é mais uma luta do tipo “cara a cara”. Mas a diferença principal é que em Portugal é proibido matar o touro na arena. É um pouco mais ameno para observar, porque matam-no depois do espectáculo. O único lugar onde se faz este jogo como em Espanha é Barrancos, uma pequena vila na fronteira de Espanha. O governo já tentou várias vezes proibir estas pessoas de matar o touro na praça, mas não tiveram sucesso até.
Um lugar famoso e tradicional para ver uma tourada é, por exemplo, Santarém, que foi, antigamente, a cidade dos nobres. Em Lisboa, no Campo Grande, há também uma bela arena. Um outro tipo são as corridas de touro, que costumam ser nas ruas. Pode ser uma grande estupidez participar neste jogo sem ser protegido por grades ou ter bastante experiência com um touro. Não é de se surpreender que, na Península Ibérica,
todos os anos, morram algumas pessoas, quase sempre turistas. E, finalmente, há a tourada do tipo espanhola com um toureiro a pé.

Os portugueses têm diferentes opiniões sobre a tourada. Para muitos, a tourada é um jogo brutal onde o touro é torturado durante o jogo, e depois morto. Para eles, também não é verdade que a tourada portuguesa é menos cruel do que a espanhola. Para alguns é até mais, porque o cavaleiro espeta as bandarilhas no touro. O facto de que o touro é morto depois do jogo não faz com que o touro ganhe nada. Outros portugueses são grandes aficcionados e alguns deles acham que o touro devia morrer, como na Espanha, na frente do público. Eu, pessoalmente, também não sou um grande fã da tourada, mas quem gosta de vê-la pode manter esta tradição, mesmo sendo cruel. Por um lado, o facto que o toiro é morto depois da tourada, no príncipio, pode ser também visto de um outro ponto de vista: o boi, que vive numa unidade de produção, entre quatro paredes, tem muitas vezes uma sorte pior, porque ele raramente chega aos três anos de vida.
A tourada remonta a chegada do Homem à Península Ibérica, quando capturava os toiros e vacas selvagens para domesticá-los. Era uma questão de sobrevivência e, durante séculos, os homens que viviam no campo tiveram de agarrar um touro que lhes fugiu. No campo, até hoje pode ser importante lutar contra um toiro ou uma vaca.
Por outro lado, a tourada na arena é apenas um espectáculo e não há realmente necessidade de torturar este bicho com bandarilhas (bater num toiro também dá para provocá-lo). Eu apenas participei numa tourada que estava à rua, e não a achava tão mal porque as pessoas no máximo jogaram pequenas pedras ao toiro ou lhe bateram. E, no final, o toiro não foi morto, foi atraído pelas vacas para subir ao camião. Foi um bom acordo entre o ponto de vista da Associação Protectora dos Animais e dos touromaníacos. O que é que vocês acham?

Rio de Janeiro e os cariocas 2

por Nikola Weiser

A credibilidade da palavra de carioca

Cariocas são extremamente descontraídos e amáveis. Para mostrar aquela amabilidade em situações sociais, eles (especialmente as mulheres) gritam um alto e prolongado “Oiiiiii” seguido de um abraço, dois beijinhos nas faces e a pergunta universal no Brasil “Tudo bem?” A resposta adequada é “Tudo bem! Que bom te ver!” ou “Tudo bom! Há quanto tempo!” Não esqueça de usar as mãos para expressar a sua alegria. Depois de um pequeno bate-papo o carioca não se satisfaz com um simples “tchau”. É muito frio e isso não é a natureza do carioca. A despedida carioca inclui pelo menos um abraço, dois beijinhos nas faces e uma das frases como “A gente se vê!” “Vamos marcar alguma coisa!” ou “Te ligo!”
Demorou algum tempo para eu descobriu que aquelas expressões não são consideradas sérias e literalmente. Significa que a gente não se vê tão cedo, nunca vão marcar alguma coisa e ninguém vai ligar pra ninguém. Ainda assim, um "carioca da gema" (= carioca de verdade) usa aquelas frases com frequência e entusiasmo, mas ignora o contudo como um grão de areia na praia de Ipanema.Aprendi também que, em geral, você não deve levar a sério tudo que é falado no Rio. Um dia liguei para a faculdade e perguntei, a que horas o coordenador chegaria no escritório.

O secretário me avisou convincente: “Às cinco horas.”
Eu, ainda com dúvida: “Ele vai estar aí às cinco horas?”
O secretário: “Sim.”
Eu: “Com certeza?”
Ele: “Não.”

O supermercado

por Rafael Mattos

Nas minhas primeiras semanas na Áustria, pude notar que o ritual do supermercado aqui é bem diferente do brasileiro. No Brasil, você pega um carrinho, escolhe o que quiser, vai pra fila - na fila expressa de 10 produtos, mesmo se tiver 15 ou 20 -, paga e leva suas compras já empacotadas por alguém tranqüilamente para a sua casa. Se não estiver encontrando algo, sempre vai ter alguém pra te ajudar. Aqui não. Pra começar, os funcionários de cada supermercado não são mais do que quatro ou cinco. Todos eles fecham, como tudo na cidade, às 18h. Alguns ficam até às 19h. A diferença já começa quando você entra: não adianta ir pra lá com o dinheiro certo do que você vai comprar. Tem que ir com dinheiro certo + 1 euro, que é para pegar o carrinho. Aqui também tem um supermercado popular, o Hofer. Lá, tudo que custa acima de 1 euro já é chique. Como eu não conheço nenhuma marca daqui, eu sempre opto pelo mais barato. Você escolhe tudo, aí vai todo felizinho pra fila. Chegando lá, já dá pra ver que as pessoas estão meio tensas, suando frio. É que os caixas daqui (geralmente só tem um caixa funcionando) passam os produtos muito rápido. Você tem que pôr seus produtos do carrinho pra esteira, uma plaquinha dizendo onde suas compras acabam, e, depois, tudo rapidamente de volta pro carrinho. Eles passam tudo MUITO rápido e te dizem o preço. Você paga e, enquanto isso, vai jogando tudo pra dentro do seu carrinho. Só joga, não olha pros lados, não presta atenção no troco, não fica pensando que você tinha visto um preço mais barato na estante, NADA! Depois você confere isso... Dá pra perceber que quando as pessoas fazem isso tão rápido quanto o caixa demora pra contar o troco, elas saem de lá todas orgulhosas, sorrindo, com ataque de bobeira... E que sacola de plástico pra depois usar no lixo que nada! Os sacos aqui custam alguns centavos, quase mais caro que 1kg de macarrão! Você tem que levar a sua própria sacola. Tem quase que uma moda de sacolas de supermercado aqui... eu tô até pensando em comprar uma bem bonita do Mozart. Quando você acaba de jogar tudo no carrinho, se afasta e põe tudo na sua sacola. Mas na fila também podem acontecer algumas surpresas: se a sua fila tá muito cheia, o conselho que eu dou é: já vai virando seu carrinho pro caixa ao lado, se aprontando, porque quando a fila tá cheia, é ba-ta-ta: eles gritam algo como "Kasse vieeeer!!!" e do fundo vem um funcionário correndo, e todo mundo da sua fila sai pra nova fila que vai se formar. Eu ainda tenho dificuldades em vencer essa corrida, o pessoal daqui é muito experiente...

Rio de Janeiro e os cariocas

por Nikola Weiser

Há um ano fiz um intercâmbio de estudantes no Rio de Janeiro e me apaixonei por essa cidade e pelos cariocas, o povo alegre que mora naquele lugar que nunca para de fascinar. Há tanto de contar sobre o Rio, que daria parar encher um livro, mas como eu já sou bem carioca achei que seria simplesmente trabalho demais. Por isso, decidi escrever uma coluna e dar oportunidade para você sentir um pouquinho da energia que irradia do Rio de Janeiro - a cidade maravilhosa.


O jeitinho carioca

Finalmente você chegou no aeroporto do Rio de Janeiro depois de 12 horas de viagem. E já tem a primeira oportunidade de aproveitar do “jeitinho” ou seja, um modo de achar uma outra possibilidade para a solução de um problema. Depois que você esperou em filas, passou o controle de passaporte e pegou as suas malas, você carrege um botão. Se tiver sorte, uma luz verde aparece, que abre o seu caminho para a cidade maravilhosa. No outro caso - uma luz na cor vermelha acende - você tem o prazer de conhecer o inspetor da alfândega que controla a sua bagagem. Caso ele encontre alluma irregularidade e quer que você pague uma taxa, faça o seguinte: Primeiro, crie um ambiente amável, com um sorriso e uma frase como: „E aí inspetor, beleza?“ Continue com uma história começando com: „Aí, o negócio é o seguinte …“ A explicação deve ser dramático, com as mãos gesticulando. Caso ainda não tenha conseguido a resposta desejada, fale que você adora o Rio de Janeiro e você é muito fã do Pelé. Depois faça um rosto inocente e pergunte: “Não dá pra dar um jeitinho?”
O jeitinho pode ser usado em qualquer situação por ex., em contato com a burocracia ou a polícia, para arrumar um trabalho, quando pedir um desconto e tal. O carioca sempre vai usar o jeitinho, é a natureza dele. Por isso: “Fique numa boa!” (= ficar tranqüilo) – palavra de carioca.