20 dezembro 2006

Rio de Janeiro e os cariocas 5

por Nikola Weiser

Os cariocas sob rodas II

O trânsito do Rio de Janeiro é uma aventura mesmo! Há algumas opções de sentir a adrenalina aumentando.

De ônibus:
Os motoristas de ônibus correm a toda a pressa e empurrar como os outros participantes do trânsito. Se você queira pegar um no ponto de ônibus, tem de fazer sinal fortemente com a mão, senão ele o ignora. Mas não fique perto demais da rua! Por causa do entusiasmo do motorista, ele de repente o atropela. Alguns motoristas ainda nem param completamente nos pontos de ônibus e os passageiros têm de descer e subir pulando. Um corpo atlético é recomendável. Dentro do ônibus segure-se com duas mãos o tempo todo ou você vai se acabar no vidro da janela ou no colo de um outro passageiro. Estar sentado no lugar detrás deixa senti-lo o máximo da adrenalina. Mas, cuidado, perto da porta, com freqüência o motorista a abre já 200 metros antes do ponto, com uma velocidade de ainda 50 km/h.
Um conforto de ônibus, você até mesmo pode fazer compras dentro. Vendedores de rua oferecem salgados, doces, música até mesmo utensílio de cozinha.

De táxi:
Nunca critique a habilidade de dirigir do motorista, mesmo que pareça que ele não tenha todo o controle sobre o carro. Eles podem ficar muito ofendidos, já que eles pensam que são os únicos que sabem dirigir direito. Fale com eles sobre o tempo ou o trânsito e crie uma atmosfera amistosa. Não se comporte como turista e ande com o taxímetro, senão ele pede um preso de gringo, significa, ele tira o seu dinheiro.

De motocicleta:
Alguém com pensamentos de suicídio deve dar uma volta de motocicleta pelo Rio. Pois, a qualidade da moto se mostra durante na hora de ponta. Passando pelas filas de carros quase imóveis, o motorista de moto economiza muito tempo e nervos.

A pé:
No Rio você descobre logo que no trânsito somente animais têm menor prioridade do que o pedestre. Esqueça faixas de pedestres e não confie que todo mundo páre no sinal de trânsito. Por isso, atravesse uma rua como os cariocas, salve-se quem poder!

Festas e tradições em Viena

por Guido Bruck
Para os nossos pequenos e também grandes leitores!

Dentro de poucos dias é Natal! E também em Viena, nas antigas ruas e praças, desde o final de novembro, instalaram-se muitos pequenos mercados de Natal. Claro que o maior e mais famoso localiza-se na frente da Prefeitura de Viena com um pinheiro imenso de 27 metros, um presente do distrito mais ocidental da Áustria, Vorarlberg . Mas também há outros mercados famosos em Viena como o de Freyung ou Spittelberg. Embora neste ano ainda não tenha nevado em Viena, a atmosfera é de encanto caindo já à noitinha. É o cheiro dos sabores de doces de forno de padaria e de quentão.

Os mercadinhos de Natal duram até o dia 24 de dezembro. Depois a praça em frente da Prefeitura vai estar preparada para a festa do Ano Novo. No dia 31 de dezembro o centro de Viena será um grande palco. Além de servir café e chá, os típicos cafés vienenses também oferecem o Punsch. Vários grupos de música de diferentes estilos tocarão ao vivo até a manhã do dia primeiro do Ano Novo nos palcos das grandes emissoras de rádio estaduais e privadas.
À meia-noite o grande sino da Basílica de São Estevão toca e a gente toda inicia o Ano Novo dançando a famosíssima valsa.

Desejo a todos amigos e amigas do nosso Jornal um abençoado Natal e um Feliz Ano com muita alegria, saúde e paz.

18 dezembro 2006

Orientação no Brasil

por Christian Doppler

Todo mundo necessita de uma orientação em sua vida! Se não existe nada, pelo qual uma pessoa possa se orientar, essa pessoa se afasta do caminho de vida.
Mas como você se orienta no Brasil, especialmente no Rio!? Boa pergunta, né!
Aqui alguns exemplos, de como pode ser dificil:
- Se você pergunta a um carioca pelo caminho ele não vai dizer: “Não sei!?” Mas com certeza vai mostrar com alegria na outra direção e dirá: “Lá”, “Na frente”!

- Um ponto de encontro é também uma coisa complicada. A sensibilidade do tempo aqui é muito diferente do que na Áustria. Se você combina uma hora de encontro, você já sabe que a gente não vai se encontrar a essa hora mas provavelmente depois!
- No Rio há muitos, muitos ônibus, mas não letreiros que explicam aonde o ônibus vai. Você não vai encontrá-los, me acredito!

Então como você se orienta melhor no Rio?!

Com um mapa e, importante, uma bússola! Assim eu me oriento no Rio, e também no Brasil inteiro. Assim eu acho todos os pontos que deveria descobrir muito rápido e direto no caminho.

Tudo isso eu aprendi na Universidade do Rio. Lá existe um Clube de Orientação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que se chama COUFRJ! Há muitos orientistas que gostam de fazer orientação.
Entretanto já sou um sócio reconhecido oficialmente do Brasil. Por conseguinte, quase um brasileiro que pratica orientação. Com este monte de orientistas alegres eu aprendi a lidar com o mapa e a bússola.

Algumas vezes a gente já viajou a vários pontos no Brasil e lá fizemos uma corrida de orientação. Os locais aonde eu já fui foram Recife, Lavras, Joinville, Miguel Pereira e Curitiba.

O que é Corrida de Orientação?

Orientação é um esporte praticado ao ar livre em que o participante orienta-se ao longo de uma série de pontos de controle, usando uma bússola e um mapa, seguindo uma ordem para percorrer os pontos pela escolha de uma rota entre eles, sendo livre esta escolha.
O objetivo de cada praticante é terminar o percurso no menor tempo possível. O orientador deve escolher a melhor rota com as informações contidas no mapa. Escolher uma rota correta e ter habilidade em seguí-la até o controle sem perder tempo, isto constitui a corrida de orientação.


Premiação da Corrida de Orientação em Joinville
Fonte: http://www.eefd.ufrj.br/deptos/corridadeorientacao/clube.htm

Lá na selva agreste nos movemos sobre a terra, na procura pelos pontos de controle. Este ano foi introduzida uma nova tecnologia. Com um chip, que se chama „emit“, em sua mão, você deve colocá-lo sobre um aparelho e copiar as informações com o scanner. É muito complicado e técnico, mas prático, porque depois, com o computador, você recebe todas as informações exatas sobre o seu tempo.

Corrida de orientação é um esporte maravilhoso e eu acho necessário para sobreviver à vida na metrópole do Rio de Janeiro!

Conserve você também a sua orientação!

Se você tiver interesse na corrida de orientação em geral, veja em:
http://www.eefd.ufrj.br/deptos/corridadeorientacao/clube.htm
http://www.forj.com.br/
http://www.cbo.org.br/site/index/index.php

HALLOWEEN : um ritual para festejar os mortos

por Jürgen Kaltenböck



Hoje em dia todo mundo conhece a festa de “Halloween ” que é festejada todos os anos na noite do dia 31 de outubro.
Muitos acreditam que a festa venha dos Estados Unidos, mas é incorreto!
Na verdade, ela descende de uma festa que se chamava “ Samhain ”, uma festa dos celtas.
Esse povo se originou há mais ou menos 3 mil anos e espalhou-se da Irlanda para quase todo o continente europeu. Hoje em dia, pode-se encontrar ainda muitos indícios da cultura celta em diferentes países da Europa, especialmente na Áustria, como por exemplo em Hallstadt.
Os celtas tinham várias festas e costumes que foram assimilados pelos romanos, algumas ainda existem, outras poucas têm outros nomes.
Pois bem, que importância a festa de “ Samhain” tinha para os celtas , e como ela se transformou na festa de Halloween.
A festa de “ Samhain ” era a festa mais importante para os celtas. Ela era um ritual para festejar os mortos e, também, significava o final do ano. Os celtas festejavam por 3 noites, da noite de outubro 31 até a noite de 2 de novembro. Acreditavam que durante esse tempo as portas entre o mundo das pessoas vivas e o mundo das pessoas mortas estavam abertas e que seria bem fácil para os mortos se misturarem entre os vivos.
Era uma festa bem grande e as pessoas vivas esperavam que pudessem entrar em contato com seus parentes mortos. Por isso, e para se proteger também, sempre ofereciam doces para os mortos.As pessoas vivas também punham trajes e máscaras para proteger-se dos mortos para que os fantasmas não se apoderassem de um corpo vivo.
Mas esses fantasmas ou espíritos não eram maus, mas, geralmente, engraçados.
No século IX, esse costume pagão transformou-se, por causa da cristianização dos romanos, numa festa cristã. Ao mesmo tempo, também se originou o costume das pessoas pobres pedirem comidas nas portas das casas das pessoas e, desde o século essa festa se chama “All hollows ’eve” em inglês, em alemão se chama “Allerheiligen”.No século XIX, os irlandeses, os quais fugiram por causa da fome da sua pátria, trouxeram esse costume aos Estados Unidos, e lá, a festa de “ All hollows ’eve ” transformou-se na festa de “Halloween”.
E, finalmente, depois de mais de dois mil anos, a festa voltou para a Europa.
Mas, ao contrário da festa de “Allerheiligen ” , um costume cristão, “Halloween ” hoje em dia é uma festa sem uma significação religiosa, é mais uma festa entre amigos ou uma festa familiar.

17 dezembro 2006

Noite Feliz: A canção que vem de Salzburg

por Sayoko Kaschl

Noite feliz! Noite feliz!......
Todo mundo conhece esta canção que foi propagada em todos os continentes pelos missionários e traduzida para mais de 300 línguas e dialetos.

No dia 24 de dezembro de 1818, o sacerdote servente, Josef Mohr, entregou para o professor e organista, Franz Xaver Gruber, a letra da canção “Stille Nacht” com o pedido de escrever uma melodia adequada para duas solistas, coro, acompanhados de violão. É assim que começa a história do surgimento da canção “Noite Feliz” em Oberndorf, uma pequena cidade situada a 20 km ao norte de Salzburg. É lá, nesta pequena capela, que é cantada pela primeira vez esta canção.


A letra provavelmente já tinha sido escrita em forma de uma poesia por Josef Mohr em Mariapfarr (uma pequena aldeia na região de Lungau ) no ano de 1816. Conta-se que não se podia tocar o órgão da igreja “São Nicola” em Oberndorf, porque estava estragado. Por isso, os autores escreveram a canção em ré-maior (compasso 6/8) para tenor, soprano e coro para a tradicional missa da véspera de Natal. O estilo da língua usado pode ser descrito mais como “artístico” do que como “popular” e a música de Franz Xaver Gruber mais com a música siciliana do que com a música popular e pastoral da região dos Alpes. Outra curiosidade é que a capela antes havia sido atingida várias vezes pelas inundações do rio Salzach, por isso, foi reconstruída, em 1937, num lugar mais alto, para lembrar o surgimento da canção mais conhecida do mundo.

Para quem ainda não conhece a canção “Noite feliz” em português, veja a letra e comece a cantar!

1. Noite feliz
Noite feliz
Oh, Senhor
Deu de amor
Pobrezinho, nasceu em Belém
Eis na lapa Jesus, nosso bem
Dorme em paz
Oh, Jesus
Dorme em paz
Oh, Jesus

2. Noite feliz
Noite feliz
Oh, Jesus
Deus de luz
Quão afável é teu coração
Que quiseste nascer
Nosso irmão
E a nós todos salvar
E a nós todos salvar

06 dezembro 2006

Um Brasil visto de fora

por Thomas Frisch e Günther Schmidhuber

Um filme americano sobre o Brasil visto na TV foi o incentivo para Tunico Amâncio escrever o seu livro „O Brasil dos Gringos“. Além do carnaval, o filme não tinha nenhuma relação com a realidade brasileira, mesmo ele fosse uma mistura estranha das culturas latino-americanas. Então o professor da UFF- Niterói decidiu escrever a sua tese de doutorado sobre essa problemática de como e porque essas imagens do Brasil se articulam na indústria de filmes estrangeiros.

Depois de um ano de pesquisa em Paris e da análise de muitos filmes, começou com o livro. Exceto alguns curtas-metragens Amâncio não tem experiência cinematográfica. Encontrando Lúcia Murat e por estar impressionado com o seu filme “Brava Gente Brasileira”, o projeto “O Olhar Estrangeiro” nasceu. Em novembro de 2006, esse projeto, no qual ele participou como co-roteirista, foi exibido no programa do Festival Brasil Plural no Elmo Kino em Salzburg. Durante o festival, o autor deu uma entrevista para a Folha de Salzburg.

“O Brasil sempre foi definido de fora.”

No livro “O Brasil dos Gringos”, Tunico Amâncio analisa quatro figuras na definição do Brasil no cinema, que são a base da tese. Esses quatro elementos são o viajante, a projeção utópica, o ladrão ou degregado e o Brasileiro fora do Brasil. A figura do viajante combina todas as noções de aventura e natureza. A projeção utópica quer dizer que a definição não é baseada numa coisa material mas imaginária, por exemplo “Brazil” do diretor famoso Terry Gilliam. O ladrão que foge pro Rio de Janeiro e o Brasileiro fora do Brasil, o exótico no mundo civilizado, sempre foram temáticas cinematográficas populares.

Além disso, Tunico Amâncio explica na sua tese a diferença do clichê e do estereótipo. O clichê é uma imagem que você imprime e reproduz mil vezes, mas essa imagem nunca muda, por exemplo, a Torre Eiffel, que representa Paris. Enquanto o clichê não tem outro significado que representa algo, o estereótipo sempre carrega uma valorização positiva ou negativa, por exemplo, a mulher brasileira, que é gostosa, fácil etc.

“O filme ilustra essa tese muito bem.”

Perguntado sobre o Festival Brasil Plural, ele o acha muito importante porque o acesso à informação muda a cabeça das pessoas. Além disso, é um apoio para todo grupo de intercâmbio cultural. Embora o tamanho do festival seja pequeno, os filmes atingem um público interessado. Como todo mundo sabe e como ele enfatiza no final da entrevista, a melhor coisa é uma pessoa curiosa.

01 dezembro 2006

Mozarte

por Nathalia Rodrigues, estudante de Comunicação Social da UFRJ



A idéia de transformar o conto “Mozarte” em um curta-metragem uniu o útil ao agradável. Em dezembro de 2005, ao conversar com uma amiga, descobri que Mariana havia vencido um festival de contos sobre o compositor W. A. Mozart.
Ao ler o conto pela primeira vez, toda a história passou como um filme pela minha cabeça e , como na época, eu estava à procura de um tema para o meu projeto final da faculdade de Rádio e TV, percebi que ali havia uma grande oportunidade para fazer o trabalho.
Pedi, então, à Mariana, permissão para seguir com o plano. Com o seu apoio, iniciei o processo de pré-produção ao desenvolver o roteiro com o auxílio de meu orientador, o Prof. Dr. Maurício Lissovsky.
Paralelo a isso, comecei a me perguntar: “Quem poderia interpretar aquele menino tão especial?”. Lembrei-me de uma amiga, estudante de Direção Teatral, que dava aulas em uma oficina de teatro na favela da Maré. Liguei para Rita e, de imediato, ela apareceu com o nome do menino. Alessandro era o Mozart em pessoa! Estava na mesma faixa etária e, por ser morador de favela, podia entender muito bem aquele personagem.
Com o Mozart escolhido, quem poderia ser a Constanza? Através de um amigo, cheguei à Claudia, que além de ser atriz, é uma bailarina de verdade. Assim como Alessandro, a realidade de Claudia era bem próxima à de sua personagem, o que tornava tudo mais interessante. Já no primeiro contato entre os dois atores, ficou claro que eles formariam uma grande dupla.
A equipe de “Mozarte” era composta basicamente por estudantes de Comunicação Social da UFRJ, com habilitação em Rádio e TV. As gravações do curta-metragem ocorreram em outubro e novembro de 2006, na cidade do Rio de Janeiro. É preciso ressaltar o enorme apoio que a Universidade de Salzburg ofereceu, seja pela tradução do roteiro coordenada pela professora Elóide Kilp, seja pela gravação de imagens de Salzburg feita pelo estudante Rafael Mattos, que coincidentemente estuda Rádio e TV na UFRJ.

Clique aqui para ler o conto.

Quentão – uma alternativa exótica ao vinho quente

por Csilla Banfoldy

Festa junina em junho, época de inverno em São Paulo, por exemplo, tem daquelas comidas e bebidas bem quentinhas como bolo de fubá, pinhão cozido, pipoca, quentão, milho verde e muito mais. Essa bebida típica brasileira de São Paulo não é só apreciada nas festas juninas, mas em dias de frio. Às vezes, passa-se mais frio no inverno do Brasil do que no inverno da Áustria. Já que estamos no inverno austríaco, que tal experimentar um quentão à moda brasileira! Veja a variante com cachaça e a outra com vinho.

Quentão tradicional
Ingredientes
1 litro de cachaça
1 e 1/2 xícaras de açúcar
2 paus de canela médios
2 limões médios cortados em rodelas
casca de uma laranja
4 cravos-da-Índia
60 g de gengibre cortado em fatias
2 xícaras de água

Modo de preparar:
Cozinhe todos os ingredientes, fora a cachaça, por vinte minutos. Acrescente a cachaça e ferva novamente por cinco minutos e mantenha em fogo baixo. Se quiser, coe e sirva em pequenas canecas.

Como paulista, é claro que devo mencionar essa bebida deliciosa, o quentão. Além do do quentão tradicional também, há na Europa o vinho quente:

Quentão Paranaense (vinho quente)

Ingredientes
açúcar a gosto
casca de 1 laranja média
3 colheres (sopa) de suco de limão
1 xícara (chá) de suco de laranja
5 cravos-da-Índia
1 litro de vinho tinto seco

2 pedaços de canela em pau

Modo de preparar:

Cozinhe todos os ingredientes, fora o vinho tinto, por vinte minutos. Acrescente o vinhoe ferva novamente por cinco minutos e mantenha em fogo baixo. Se quiser, coe e sirva em pequenas canecas.


fotos de http://www.ajinomot.com.br e http://www.cybercook4.uol.com.br

Grosso não faz Jazz

por Thomas Frisch



Renato Borghetti traz a cultura gaúcha a Salzburg

Renato Borghetti tinha 12 ou 13 anos quando ganhou sua primeira gaita. Desde então tem se desenvolvido num artista excepcional nesse instrumento. No dia 31 de outubro foi convidado para fazer um show com o seu quarteto na ArgeKultur em Salzburg. Sabendo disso não podia perder essa oportunidade e pedi para ele dar uma entrevista depois do show à Folha de Salzburg. No restaurante da ArgeKultur, então, a gente aproveitou o tempo antes do jantar para conversar sobre a música, a cultura gaúcha e a Áustria.

O Borghettinho ganhou sua primeira gaita não como instrumento mas sim como brinquedo. E esse jeito descontraído de tocar se sente ainda hoje quando está tocando com seus companheiros no palco. Os fabulosos Vitor Peixoto no piano, Pedro Figueiredo na flauta e saxofone e Daniel Sá na violão também fazem parte do quarteto.

Perguntado como ele mesmo descreveria a sua música, diz que faz música folclórica regional do Rio Grande do Sul. É música brasileira com influência espanhola, quer dizer, da Argentina e do Uruguai. Não se trata de música que se costuma relacionar ao Brasil, como o samba ou a Bossa Nova mas é uma parte dela. Borghetti afirma que ele não quer divulgar um novo Brasil mas mostrar a diversidade da cultura brasileira. Assim, ele continua fiel às suas raízes e vê a sua tarefa em manter a caraterística de tocar música da sua terra e apresentar um Brasil que é um pouco diferente daquele que todo mundo conhece, mas que também existe.

Enfatizando sempre a sua origem, para ele, música é uma forma de expressar o sentimento, o amor para essa região onde ele nasceu e vive ainda hoje. Falando da terra onde nasceu, possui uma forte relação com a natureza que é a sua primeira fonte de inspiração. Ele até entrou na faculdade de veterinária em Porto Alegre. Além da sua casa na cidade, possui um refúgio no campo. Ali surge a maioria das idéias para suas músicas o que se repercute também nos nomes das canções. No palco, se vê bastante improvisação dessas canções. Ele gosta de ter uma lista de músicas, mas muitas vezes troca por outras na hora. Apesar dessa espontaneidade e improvisação, ele não se sente como um artista que toca jazz, mas é completamente gaúcho e afirma que “grosso não faz jazz”.

Como não gosta muito de sua própria voz, ele se dedicou a fazer música instrumental. E ele realmente é um herói na gaita-ponto. A simplicidade e a limitação desse instrumento fascinam a ele. “A gaita é um instrumento limitado, pois ela não tem todas as notas”, explica. Com novos projetos sempre há a incerteza se vai dar ou não e o desafio em achar um jeito para realizá-los representa o motor para a sua criatividade.

Há 5 anos possui uma produtora austríaca e, assim, uma forte conexão com a Áustria, foi a primeira vez que ele tocou em Salzburg. Mas a gente gostou pra caramba e espera que vá voltar logo para cá!

Rio de Janeiro e os cariocas 4

por Nikola Weiser

Os cariocas nas rodas I

Você jamais sonhou dirigir atrás de um corredor? Beleza! No Rio vai se sentir muito confortável. A cidade é uma única pista de corrida que todo mundo participa. As mãos no volante e “vamu nessa”! Esqueça tudo o que aprendeu sobre as regras de trânsito. Como um professor de motorista me explicou: “Oficialmente você ultrapassa um carro no lado esquerdo, mas se a situação permite, pode passar pela direita também. Porque não?”
O trânsito carioca é rápido, muito rápido e criativo. Claro que há limitação de velocidade, mas quem a controla? A velocidade média na cidade é provavelmente 70 km/h. Aliás, depois das 11 horas da noite é permitido passar um cruzamento também com sinal vermelho. Só reduza a velocidade um pouquinho, olhe se não estiver vindo um outro automóvel e passe. Assim, se todo mundo passar enquanto o sinal estiver vermelho, o que se fará quando o sinal estiver verde? Fácil: coloque o pé na tábua, buzine duas vezes e vá. E o que fazer no amarelo? Acelere e passe antes da luz ficar vermelha, o carro atrás de você vai fazer igualzinho a você.

Entrevista com a Professora Margarida Pinto do Amaral

por Sayoko Kaschl



P: Profa. Margarida Pinto do Amaral, eu ouvi falar que a senhora já mora e trabalha há muito tempo em Salzburg. Poderia falar um pouco sobre a senhora mesma?

R: Sim, já cá estou há aproximadamente 30 anos. Eu vim cá estudar, na universidade de música Mozarteum, pedagogia musical e de dança no instituto Orff e logo que acabei o curso fui convidada pelo diretor do instituto para cá ficar como professora e aqui estou há 28 anos ensinando neste instituto.

P: A senhora gosta da música? Também toca algum instrumento musical?

R: Sim, gosto imenso de música, mas não sou especializada em música. A minha especialização é no campo da dança, porque já tinha tirado outro curso em Portugal. Eu estudei Pedagogia, Dança e Ciência da Motricidade Humana (terminologia antiga: Educação Física) em Portugal. Gosto muito de música, até porque a dança relaciona-se muito com a música e os estudos neste instituto também é uma combinação de música e de dança. Os meus conhecimentos musicais são suficientes para dar apoio à dança.

P: Macau tem dois concelhos, o concelho de Macau e o concelho das ilhas. De qual concelho a senhora é?

R: Eu sou naturalmente do concelho de Macau. Macau tem duas ilhas, Taipa e Coloane. No meu tempo, as ilhas de Taipa e Coloane eram pouco habitadas e nós íamos lá fazer piqueniques. Mas hoje em dia as ilhas estão com imensos hotéis e são mais povoadas, porque é uma zona muito mais verde e mais relaxante também.

P: Poderia falar mais um pouco sobre Macau? Se a gente viajar para o Macau, o que é que se deve ver ou fazer lá?

R: Macau é uma cidade de 28km² e tem meio milhão de habitantes e, portanto, a população é muito grande para uma superfície tão pequena.
Macau é conhecida em todo mundo como a “Las Vegas do Oriente”. A atracção do turismo de Macau é essencialmente o jogo do azar ou da sorte, consoante a perspectiva do observador.
No campo cultural podemos constatar uma grande influência portuguesa, imensos prédios de arquitectura portuguesa dos séculos passados, e simultaneamente muita influência da cultura chinesa. Nos últimos dez ou vinte anos, a cidade de Macau modificou-se muito e algumas das casas, palácios e palacetes do século XVI foram destruídos. Agora há quase só arranha-céus.

P: A senhora não estava em Macau, quando aconteceu a devolução no ano 1999. Mas talvez poderia nos contar o que mudou depois da devolução, por exemplo, a língua ou o sistema monetário?

R: Estava cá e não sei bem exactamente os pormenores dos acontecimentos da altura. No entanto, já estive em Macau depois da devolução e o que eu eu acho é que a grande diferença neste momento são as leis chinesas, elas não são mais portuguesas! Os habitantes macaenses, ou melhor, aqueles de nacionalidade portuguesa, não têm as regalias que tinham dantes, porque são considerados estrangeiros. É claro, que as pessoas habituadas a falarem mais o português e a terem uma sociedade portuguesa com quem o contato era maior está desaparecendo. Actualmente, tudo está diferente porque a sociedade predominante e privilegiada é a chinesa.
Quanto ao fator económico, o monopólio do jogo agora está descentralizado e são mais sociedades a explorar o jogo.
O sistema monetário, continua a ser a Pataca, e depende sempre do dólar americano.

P: A gente em Macau fala diversas línguas. Quais línguas a senhora fala?

R: Em Macau nunca se falou muito português. Só um pequeno grupo de portugueses, que faziam parte da administração portuguesa , os militares e os habitantes de Macau que estudavam português é que falavam português . Depois da entrega de Macau à China, o número de falantes de português é muito pequeno. Os habitantes de Macau tentam falar português, mas falam mais um tipo de Patuá, uma mistura de português, chinês e malaio.
Fala-se inglês, português, chinês e patuá como disse. O chinês de Macau é o dialecto cantonês. A língua oficial hoje é o mandarim. Eu falo cantonês, mas estudei um pouco o mandarim. O mandarim é muito diferente, quanto uma outra língua, mas a escrita é a mesma. Eu falo português, inglês, cantonês, italiano, alemão, espanhol e francês.

P: Qual é a língua que os alunos falam na escola?

R: Depende do tipo de escola: há escolas portuguesas, escolas inglesas e escolas chinesas. Os que estudavam inglês seguiam os estudos universitários em Inglaterra ou nos Estados Unidos; os que estudavam português, seguiam depois os estudos em Portugal e os que estudavam chinês seguiam os estudos em Taiwan ou em Hong Kong. Hoje há também em Macau uma universidade. (
http://www.umac.mo/).

P: A gente de Macau gosta de viajar para a Europa?

R: Os macaenses estão sempre em viagem. Todos os conhecidos e amigos de Macau viajam duas ou três vezes por ano, não só para a Europa mas também para os outros países da Ásia e também da América como, por exemplo, os Estados Unidos e o Canadá.
Uma viagem para Hong-kong dura apenas 45 minutos.
Os macaenses que se encontram na Europa estão quase todos reformados e têm casas em Portugal e também em Macau. Razão porque viajam tanto.

P: A senhora tem alguma possibilidade de ler os jornais e revistas em português em Salzburg?

R: Normalmente não compro nem jornais, nem revistas portuguesas, até porque hoje em dia com a internet posso entrar em todas os sites. Além disso, tenho também o canal português. Se o jornal “Folha de Salzburg” aparecer na internet, vou lê-lo com muito gosto.
Muito agradecida.