31 maio 2007

Uma viagem pela música da religião afro-brasileira em Olinda

por Sayoko Kaschl

Saí de Salzburg nevando e cheguei em Salvador no tempo do verão outonal. Os capoeiristas treinavam na Praça do Terreiro no Pelourinho, como há dois anos. Sua música com conga, pandeiro e berimbau estava soando melancólico e ao mesmo tempo advertindo.

Depois de alguns dias desfrutando a música e o movimento elástico da capoeira, antigamente recriminada, continuei minha viagem para nordeste e cheguei em Olinda, uma cidade antiga e maravilhosa perto de Recife, a capital de Pernambuco.




Lá, Marileide, a jornalista da Folha de Pernambuco, e Guitinho, o músico do grupo Bongar me aguardavam para mostrar sua cidade e a casa da Nação Xambá, onde eu aprendi a tocar o tambor “Ilú”. Nação Xambá é uma tradição religiosa de origem africana e é praticada há mais de 70 anos, primeiro em Recife e desde 1951 em São Benedito – Olinda. Os orixás, ancestrais simbolicamente divinizados e cultuados nesta Nação são, por exemplos, Exu, Ogum, Ode, Nana, Bêji, Obaluaiê, Ewá, Oba, Xangô, Oyá/Iansã, Afrekête, Oxum, Yemanjá e Orixalá. Cada orixá tem seus ritmos próprios.



Quando nós chegamos ao terreiro da Nação Xambá, uma festividade estava acontecendo dentro do terreiro. Por isso, eles me mostraram o museu em cima do terreiro, onde muitas fotos, documentos da história dela e também inúmeros objetos usados no terreiro antigamente estavam expostos ao lado da biblioteca. Pela primeira vez na minha vida, encontrei os tambores “Ilús”, que eu aprenderia a tocar.



Muito nervosa, não pude dormir bem nesta noite. Apesar disso, no dia da primeira aula foi ótimo. No jardim da casa do Guitinho, ao lado da palmeira e da mangueira, meu professor, Iran, que é também a percussionista do grupo Bongar, mostrou os ritmos dos orixás. Eu toquei o tambor agudo “Ilú” e ele tocou “Ingoma”, um tambor maior e bem grave. No início, os ritmos de Orixalá, um orixá mais velho, considerado pai da maioria dos orixás e depois, de Yemanjá, um orixá feminino das águas dos mares e mãe da maioria dos orixás. Os ritmos deles eram simples e fazem a sentir a terra. No outro dia tocamos Oxum, um orixá feminino das águas dos rios e da fecundidade e beleza, e Ogum, um orixá masculino dos metais. Os ritmos começaram a soar mais sincopados e foram muito interessantes, mas precisei me acostumar a eles. Para tocar Iansã, um orixá feminino dos ventos e das tempestades e um ritmo que se chama “Toque Nagô”, precisei praticar a nova técnica e tocar com a nova sensibilidade rítmica. Depois, o ritmo de Xangô, um orixá da justiça, dos raios e do trovão, e o ritmo Nagô tocado na Nação Nagô. Como “Toque Nagô”, tocamos estes ritmos muito rápido e sempre mais rápido... du gum gum gu du gu taz taz...



Um dia, Iran me mostrou o outro terreiro da Nação Nagô do seu tio, Tonzinho, onde também os “Ilús” são tocados para suas cerimônias. Os quadros de São Jorge, que significa Ogum, de Santa Bárbara, que significa Iansã, de Nossa Senhora da Conceição, que significa Yemanjá e de Nosso Senhor do Bonfim que significa Orixalá foram marcantes na sala da cerimônia. Um outro dia visitei ainda uma vez este terreiro e assisti o ensaio de Afoxé ensinado pelo professor Tonzinho. Os meninos e jovens estavam tocando maravilhosamente e praticando com seriedade e alegria. Quem sabe, um dia eles poderiam ser músicos excelentes! Axé!

Mais detalhes nos sites :http://www.xamba.com.br e http://www.bongar.com.br