05 outubro 2009

Olinda


O toque de Xangô na Nação Xambá

No dia da partida para a Europa, levantei às 5 horas da manhã e peguei um táxi para São Benedito perto de Olinda para assistir à preparação da celebração do toque de Xangô na Nação Xambá porque não podia ficar até a celebração com o público no domingo, no dia seguinte. A Nação Xambá é o único terreiro dessa linhagem que se tem conhecimento no Brasil.

Cheguei lá às 6 horas, muito ansiosa para conhecer coisas novas e fiquei aguardando meu amigo Guitinho da Xambá para sua instrução no terreiro, durante a celebração. Logo depois ele chegou e me avisou que eu não poderia assistir àquela celebração por causa do segredo religioso, mas poderia escutar fora do terreiro, se quisesse. Então sentamos no banco fora da casa do terreiro e ficamos escutando juntos. Entretanto meu amigo me explicou detalhadamente o que estava acontecendo no salão do terreiro.

Explicou-me que a celebração do toque de Xangô já tinha começado na quarta-feira de madrugada e todos os dias havia preparação até o toque no domingo. O toque dura das 16 h até as 20h. O salão estava arrumado com o cheiro gostoso de cominho (tempero para comida) que chegava bem até onde estávamos sentados. Disse que os filhos de santo não deviam falar na sala de entrada até entrarem no terreiro e cumprimentarem os outros filhos de santo.

O toque começou e ele me disse que as crianças estavam tocando na preparação para praticar com os adultos. Eles começam a tocar tambor “ilú” com 4 ou 5 anos de idade. O primeiro toque com canto era para Exu limpar o terreiro e o caminho. O segundo era para Ogum e a seguir para outros Orixás. A sequência dos orixás são sempre Exu, Ogum, Odé (Oxossi), Nana, Bêji, Obaluaiê (Omolu), Ewá, Obá, Xangô, Oyá (Iansã), Afrekête, Oxum, Yemanjá, terminando com Orixalá. Disse que os cantos são 90 por cento na língua Yorubá e outros são na língua misturada com português.


Enquanto escutávamos o toque de Xangô com canto, os galos eram preparados para o sacrifício. Diz-se, na madrugada da quarta-feira também é sacrificado um bode ou uma cabra. Xangô é o Orixá da Justiça, dos raios, das pedreiras e do trovão. O seu símbolo e ferramenta é o machado duplo, suas cores são vermelha e branca e o sacrifício para ele é galo, carneiro, etc. Na Xambá, a cor da camisa é rosa, diferente das outras nações que é vermelha e branca, mas a guia de Xangô na Xambá é vermelha e branca.


Durante os toques as pessoas podiam tomar e comer algo, já que o toque durava quase 4 horas e os adeptos dançavam até seu transe. Fui convidada para um café e saboreei algumas das batatas doces cozidas. Eram muito gostosas. Também havia um prato de milho cozido, um prato de salsichas e pães. Todo mundo era muito gentil e hospitaleiro e eu gostei muito deste convite tão carinhoso. No outro lado do quarto as mulheres faziam um bolo grande e quadrado com cobertura branca para o próximo dia. Parecia muito delicioso!

Por sorte, por volta do fim da celebração fui convidada para entrar no salão do terreiro e pude presenciar esta celebração por um momento, pelo qual agradeço muito a todo mundo no terreiro e especialmente a meu amigo, Guitinho da Xambá. Dançando lá com a batida dos tambores “ilús”, junto com os filhos de santo com roupas bonitas nas cores dos seus Orixás, pude perceber muito forte a seriedade e o respeito desse povo por sua cultura. Com certeza, o toque de Xangô no domingo deve ter sido um bom toque para todos.

por Sayoko Kaschl

Mais informações : http://www.xamba.com.br
Fonte da foto de Xangô : http://ilarioba.tripod.com/orixas.htm