01 dezembro 2006

Grosso não faz Jazz

por Thomas Frisch



Renato Borghetti traz a cultura gaúcha a Salzburg

Renato Borghetti tinha 12 ou 13 anos quando ganhou sua primeira gaita. Desde então tem se desenvolvido num artista excepcional nesse instrumento. No dia 31 de outubro foi convidado para fazer um show com o seu quarteto na ArgeKultur em Salzburg. Sabendo disso não podia perder essa oportunidade e pedi para ele dar uma entrevista depois do show à Folha de Salzburg. No restaurante da ArgeKultur, então, a gente aproveitou o tempo antes do jantar para conversar sobre a música, a cultura gaúcha e a Áustria.

O Borghettinho ganhou sua primeira gaita não como instrumento mas sim como brinquedo. E esse jeito descontraído de tocar se sente ainda hoje quando está tocando com seus companheiros no palco. Os fabulosos Vitor Peixoto no piano, Pedro Figueiredo na flauta e saxofone e Daniel Sá na violão também fazem parte do quarteto.

Perguntado como ele mesmo descreveria a sua música, diz que faz música folclórica regional do Rio Grande do Sul. É música brasileira com influência espanhola, quer dizer, da Argentina e do Uruguai. Não se trata de música que se costuma relacionar ao Brasil, como o samba ou a Bossa Nova mas é uma parte dela. Borghetti afirma que ele não quer divulgar um novo Brasil mas mostrar a diversidade da cultura brasileira. Assim, ele continua fiel às suas raízes e vê a sua tarefa em manter a caraterística de tocar música da sua terra e apresentar um Brasil que é um pouco diferente daquele que todo mundo conhece, mas que também existe.

Enfatizando sempre a sua origem, para ele, música é uma forma de expressar o sentimento, o amor para essa região onde ele nasceu e vive ainda hoje. Falando da terra onde nasceu, possui uma forte relação com a natureza que é a sua primeira fonte de inspiração. Ele até entrou na faculdade de veterinária em Porto Alegre. Além da sua casa na cidade, possui um refúgio no campo. Ali surge a maioria das idéias para suas músicas o que se repercute também nos nomes das canções. No palco, se vê bastante improvisação dessas canções. Ele gosta de ter uma lista de músicas, mas muitas vezes troca por outras na hora. Apesar dessa espontaneidade e improvisação, ele não se sente como um artista que toca jazz, mas é completamente gaúcho e afirma que “grosso não faz jazz”.

Como não gosta muito de sua própria voz, ele se dedicou a fazer música instrumental. E ele realmente é um herói na gaita-ponto. A simplicidade e a limitação desse instrumento fascinam a ele. “A gaita é um instrumento limitado, pois ela não tem todas as notas”, explica. Com novos projetos sempre há a incerteza se vai dar ou não e o desafio em achar um jeito para realizá-los representa o motor para a sua criatividade.

Há 5 anos possui uma produtora austríaca e, assim, uma forte conexão com a Áustria, foi a primeira vez que ele tocou em Salzburg. Mas a gente gostou pra caramba e espera que vá voltar logo para cá!