09 junho 2008

Olinda


Toque de Ogum no terreiro da Nação Xambá

São Benedito é um dos bairros da cidade de Olinda, perto do Recife, a capital de Pernambuco, e fica aproximadamente 15 km cidade adentro. Olinda é uma pequena cidade muito linda com muitas igrejas antigas e maravilhosas na ladeira ou em cima do morro entre palmeiras. Na Rua Severina Paraíso da Silva, onde o terreiro da Nação Xambá, de origem Bantu, fica, é normalmente muito quieto, a não ser que alguém toque música ou às vezes os sapos chamem pela chuva.


Porém no dia do toque de Ogum, 27 de abril 2008, esta rua e o terreiro estavam cheios de pessoas com roupas e fios-de-contas coloridas, chapéus e turbantes. As pessoas com roupas na cor vermelha representam os filhos do orixá Ogum, na cor vermelha e branca de Xangô, na cor rosa de Iansã, na cor azul de Yemanjá, na cor branca de Orixalá, e etc. Muitos visitantes que vieram para assistir o toque de Ogum vestiram saias ou calças (só homem) compridas e camisas com mangas, que é obrigatório para entrar no salão das festas religiosas do terreiro. Na entrada do terreiro, assinei meu nome no livro de presença e peguei uma guloseima (bala) da cesta, que foi oferecida por uma filha de santo da casa.


Dentro da casa, o salão de toques estava enfeitado com tecidos estampados, chamado de chita, com desenho das flores típicas da Região Nordeste do Brasil. O salão também estava com o chão cheio de folhas de canela (uma planta de cheiro que é utilizada para manter o ambiente com um ar agradável e purificado). À frente deste salão foram colocados três engomes (tambores), também enfeitados com a chita. Três tocadores sentavam atrás deles e dois outros músicos ficavam ao lado à disposição com seus instrumentos, agbê (cabaça revestida de contas) e agogô (sineta de ferro).


O cantador começou a cantar uma toada e o coro dos filhos de santo da casa respondeu com o ritmo do agogô seguido pelos agbê e engomes. Os filhos de santo da casa e adeptos do candomblé começaram a saudar entre si e começaram a dançar com o movimento leve por causa da falta de espaço. A sala estava repleta de gente. De repente ouvimos as explosões dos foguetes lá fora, na rua, e a atmosfera tornava-se mais festiva. O pessoal continuava a cantar e dançar. Depois de algum tempo, o iniciador declarou que a parte da cerimônia seguinte não deveria ser fotografada. A gente observava este ritual sagrado no meio do salão religioso, sempre dançando acompanhado pelo toque.


Depois da cerimônia misteriosa, todos começaram a dançar mais agitados por conta do toque mais intensivo. Alguns entraram no estado de transe ou esgotamento e foram tratados com água etc. Por causa do calor e cansaço da dança que já durava duas horas, saí do salão entrando na cozinha grande atrás do salão e ali fui convidada para um prato de mungunzá (comida feita com milho, leite de coco, açúcar e canela) e cafezinho com bolo. Mmmmmmm, foram muito deliciosos!!! A gente recarregava a energia ali e voltava no salão para continuar a dançar. Diz-se que esta cerimônia dura quatro horas sem parar e os tocadores são trocados muitas vezes. Que energia é essa e de onde ela vem?

Por causa da minha partida para o Rio de Janeiro que seria no dia seguinte, infelizmente não pude ficar até o fim do toque e saí da casa da Nação Xambá ainda escutando o som dos engomes e sentindo a energia deste povo. Se fechar meus olhos, ainda posso ver as cores vividas das flores no tecido da decoração e das roupas dos filhos de santo. A cultura cultivada e mantida viva por muito tempo, apesar da opressão rigorosa do período do Estado Novo no governo do então presidente Getúlio Vargas, deve possuir a energia e espírito tão forte que nos impressiona bem profundo. Foi uma vivência inesquecível!

Mais informações : http://www.xamba.com.br/
“Nação Xambá do terreiro aos parcos” pela Marileide Alves
por Sayoko Kaschl